segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Para iluminar o dia: sobre a oração

"Não deixes de viver bem e louvarás o Senhor. Deixas de louvar a Deus quando te apartas de sua justiça, do que a Ele agrada. Se não te apartas da retidão, ainda que cale a língua, fala tua vida, e o ouvido de Deus está atento ao teu coração." (Santo Agostinho)

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

terça-feira, 24 de setembro de 2013

“Jesus nunca falha, é um amigo fiel”, diz o Papa Francisco aos jovens da Sardenha

No mesmo sóbrio e simples cenário da manhã com os operários (onde se emocionou), o Papa Francisco se reuniu, pela tarde, com os jovens sardos. Eles o aplaudem com o grito de “Papa Francesco”. E também os emociona, lançando-lhes um “Jesus que nunca falha”. Como não falhou com ele, que o segue há 60 anos.
 
Fontehttp://bit.ly/1fvQEUz 
A reportagem é de José Manuel Vidal e publicada no sítio espanhol Religión Digital, 22-09-02013. A tradução é de André Langer.
Os jovens o saúdam e lhe dão as boas-vindas “nesta terra entre o mar e o céu, com sua natureza maravilhosa e sua gente hospitaleira e fiel”. E acrescentam: “Viemos para ouvir sua palavra e dar-lhe um forte, forte abraço”. Outro jovem disse: “Sua esperança será a nossa esperança”.
Outra jovem recorda a Jornada Mundial da Juventude em Copacabana. “Somos arquitetos do futuro”. Outra jovem fala dos rapazes que abandonam a Igreja depois da confirmação. Por que isso acontece?, pergunta.
Outro jovem lhe pergunta como deixar de ser cristãos “tristes”. Outro ainda lhe pergunta: como podemos responder ao chamado de Deus?
E, depois das perguntas, o Papa procura responder.
“Obrigado por terem vindo e obrigado aos porta-vozes”.
“Vocês me fazem pensar na Jornada Mundial da Juventude do Rio”.
“Foi uma esperança muito bonita”.
“Com a mesma alegria que sentimos hoje”.
“Rezem muitas vezes à Virgem, é uma boa mãe, eu posso lhes garantir”.
“Também eu falo o dialeto”.
“Depois das perguntas de vocês, penso no Evangelho no lago da Galileia”.
“O primeiro ponto: a experiência do fracasso, que estava nas perguntas de vocês”.
“Outra experiência de fracasso são os jovens que não estão nas paróquias”.
“Quero lhes fazer uma pergunta e vocês podem respondê-la em silêncio, cada um no seu coração: vocês pensam nas experiências de fracasso que vocês fizeram?”.
“Todos nós as temos”.
“Há cristãos, às vezes, cansados e tristes”.
“A confirmação é o sacramento do adeus: é uma experiência de fracasso, que desanima”.
“Uma coisa que não se deve fazer é deixar-se vencer pelo pessimismo e pela desconfiança”.
“Um jovem sem esperança não é jovem, envelheceu prematuramente”.
“A esperança faz parte da juventude de vocês”.
“Quando um jovem não tem alegria e perde a esperança, onde vai buscar um pouco de paz?”
“Os mercadores da morte oferecem a vocês um caminho para os momentos em que vocês estão tristes e sem esperança”.
“Por favor, não vendam sua juventude aos que querem vender-lhes a morte”.
“Confiar em Jesus”.
“Quero ser sincero: não venho aqui para vender-lhes uma decepção. Venho aqui para dizer-lhes que Jesus pode dar sentido às suas vidas e Jesus não é uma decepção”.
“Jesus está perto dos nossos fracassos e dos nossos pecados”.
“As dificuldades não nos devem desanimar: lancem as redes”.
“Sejam dóceis à palavra do Senhor”.
“Com Jesus tudo muda”.
“Mantenham-se longe da ameaça do lamento e da resignação”.
“A deusa das lamentações é um engano”.
“Não se deem por vencidos”.
“A fé em Jesus conduz à esperança”.
“Saiam de vocês mesmos e abram-se a Deus”.
“Abram-se a Deus e aos outros”.
“Terceira coisa e termino, um pouco longo”.
“A terceira coisa que quero dizer a vocês é que também vocês foram chamados para serem pescadores de homens”.
“Quero contar-lhes uma experiência pessoal: ontem [sábado] fiz 60 anos da minha vocação”.
“Nunca esqueci: o Senhor me fez sentir que devia ir por esse caminho”.
“Anos de alegria, mas também de fracassos e de pecados: 60 anos pelo caminho de Deus, sempre com Ele”.
“Nunca me arrependi”.
“Por que sou Tarzan? Não, porque sempre, inclusive nos momentos mais obscuros, do pecado, olhei para Jesus e confiei em Jesus e ele nunca me deixou sozinho”.
“Ele nunca falha, é um amigo fiel”.
“Sou feliz por estes 60 anos com o Senhor”.
“Os santos não nascem já santos; tornam-se santos porque confiam na palavra do Senhor”.
“Sejam sempre jovens de esperança. Nada de lamentações nem de ir comprar consolações de morte. Vão adiante com Jesus. Ele nunca falha”.
“Antes da bênção, quero dizer-lhes ainda outra coisa: hoje, no Paquistão, por uma decisão equivocada, de guerra, houve um atentado e morreram 70 pessoas”.
“Só o caminho da paz serve para construir um mundo melhor”.
“Se vocês não o fizerem, não há quem o faça”.
“Um Pai-Nosso por todas estas pessoas que morreram no atentado no Paquistão”.
“Por favor, rezem por mim e arrivederci”.
Papa Francisco pediu, hoje [domingo], aos jovens para que nos momentos de tristeza e dificuldade não cedam e não vendam sua juventude aos mercadores da morte, referindo-se ao mundo das drogas.
Este foi o apelo que o papa argentino fez a dezenas de milhares de jovens reunidos no passeio marítimo de Cagliari, durante o ato final da sua viagem à capital da ilha da Sardenha, mergulhada no desemprego.
“Às vezes se perde a esperança, vai se buscar um pouco de tranquilidade e paz no lugar errado e se encontra os mercadores da morte, que nos oferecem um caminho quando estamos tristes, sem esperança e sem confiança”, explicou o papa.
“Mas, por favor, não vendam a juventude de vocês a estes que vendem morte. Todos vocês sabem do que estou falando. Todos me entendem. Por favor, não façam isso!”, acrescentou.
“Nunca deixem de entrar no jogo, como bons esportistas que sabem enfrentar o cansaço do entretenimento para alcançar resultados: as dificuldades não devem espantar vocês, mas impulsioná-los a ir além”, disse.
Também lhes pediu para que não se deixem atrair pela “deusa da queixa”, que é um “engano”, e que “nunca se deem por vencidos”.
Indicou aos jovens que “vocês foram chamados para se converterem em pescadores de homens”.
“Após 60 anos desde que escutei o chamado, nunca me arrependi. Não porque me sinta forte ou porque me sinta umTarzan. Não, não me arrependo porque nos momentos de fracasso, nos momentos de fragilidade, vi Jesus”, disse.
Por isso, acrescentou: “Confiem em Jesus, porque Ele nunca decepcionará vocês”.
O encontro com os jovens encerrou a visita a Cagliari, onde também encontrou grupos de desempregados, doentes e presos.

Para iluminar o dia: sobre o dinheiro



"Tenha sempre presente que o amor ao dinheiro é o veneno que mata a esperança." 
(Santo Agostinho)

terça-feira, 17 de setembro de 2013

AGOSTINIANA RECEBE PRÊMIO NOBEL




A Vida Religiosa se alegra com a Congregação das Irmãs Agostinianas de Dungu, com o o Prêmio Nansen de Refugiados - uma espécie de prêmio Nobel do mundo humanitário que a Irmã Angélique Namaika  recebe nesta terça, 17 de setembro.
Irmã Angélique trabalha há 10 anos  no nordeste da República Democrática do Congo, no acompanhamento de mulheres vítimas da violência de gênero e do conflito congolês. 
A abordagem individual adotada pela Irmã Angélique no seu trabalho ajuda as vítimas a se recuperarem de seus traumas. Além do abuso que sofreram essas mulheres e crianças vulneráveis são frequentemente condenadas ao à exclusão, ao isolamento ou exílio por suas comunidades e pela própria família.  Para curar suas feridas  e reconstruir suas vidas despedaçadas elas precisam muito amor e carinho, do jeito que Irmã Angélique sabe dar.
Angélique falou ao  Conselho de Segurança da ONU e no Congresso dos EUA sobre a violência e a busca pela paz no Congo.
Pesquisas apontam que cerca 350 mil pessoas tenham sido forçadas a deixar suas casas na região de Dungu. A brutalidade do grupo sectário cristão e militar que atua no norte de Uganda, o LRA ( Lord's Resistance Army) é bastante conhecida, e depoimentos de mulheres confirmam esta prática.

O Brasil, mão estendida a estas refugiadas
Algumas dessas mulheres congolesas encontraram refúgio no Brasil. As Caritas Arquidiocesanas de São Paulo e do Rio de Janeiro trabalham em parceria com o ANCUR.
O Brasil possui cerca de 4.400 refugiados de cerca de 70 nacionalidades. Os congoleses representam o 3º maior grupo (cerca de 13%), antecedidos pelos angolanos e colombianos.
Funcionária da Caritas Arquidiocesana de São Paulo Larissa Leita fala justamente da realidade das refugiadas congolesas no Brasil.     

Irmã Angélique Namaika já salvou mais de 2 mil mulheres da violência no Congo


Conheça um pouco da história missionária de Irmã Angélique
Aos nove anos de idade, Angélique decidiu dedicar sua vida aos necessitados ao ver uma religiosa trabalhando em uma aldeia.
Se ingressou na Congregação das Irmãs Agostinas de Dungu e Doruma, em 1992 .  “ As deslocadas pela violência do LRA são muito vulneráveis. Elas são capturadas, levadas à floresta e dadas aos soldados. Ali, apanham, são vítimas de violência sexual”, disse  à coletiva de imprensa se Genebra.
Irmã Angélique, 46, é uma refugiada dentro do próprio país. Foi obrigada a deixar sua casa em virtude de ataques do grupo armado na região e viveu em abrigos com outros deslocados em 2009. “Não sabia aonde ir. Cruzei árvores, campos, não havia comida para todos. Na caminhada, cantava músicas religiosas para espantar o medo, relatou.  
 “ Era difícil achar quem ajudasse. Quando conheci as vítimas do LRA que escapavam da floresta, percebi que elas tinham sofrido muito mais atrocidades do que eu. Isso me encorajou a ir todos os dias aonde elas viviam para ajudá-las. Estar juntas é importante para as mulheres. Lembramos sempre do ditado: uma por todas, todas por uma”, narrou.
A religiosa é cofundadora do Centro para Reintegração e Desenvolvimento em Dungu, cidade mais afetada pelo LRA. Só neste ano, foram 54 ataques do grupo armado na região, com 17 mortes e 53 sequestros.
 Ali, a Irmã trabalha com 150 mulheres que estão em processo de recuperação de traumas.  As mulheres têm cursos de alfabetização, costura e culinária. São mulheres como Monique, raptada aos 14 anos pelo LRA. Obrigada a se casar com um soldado, descobriu estar grávida ao ser liberada, aos 17 anos.
Hoje, vive em Dungu com seu bebê de 6 meses, a mãe e o irmão. Aprendeu a costurar com Angélique e faz uniformes escolares. “As mulheres são muito importantes na sociedade. São elas que educam os filhos, formam o futuro. Peço a Deus todos os dias que me dê força para continuar a ajudá-las. E peço que todos ajudem fazendo o mesmo, e olhem para essas mulheres, não só no Congo, que sofrem tantas atrocidades”, concluiu.
O Exército de Resistência do Senhor (LRRA), nos últimos 30 anos forçou o deslocamento de 2,5 milhões de pessoas internamente e além das fronteiras em Congo, Uganda, Sudão do Sul e República Centro-Africana, indica um relatório divulgado nesta terça-feira pelo Acnur.
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Fontes: oglobo; radiovatican
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Para iluminar o dia: sobre a humildade


"Mesmo que te pareça contraditório, nossa força está na humildade. A soberba é apenas um truque. Os humildes são como rochas: estão sob os pés, mas têm solidez. Os soberbos, em troca, o que são? São como a fumaça: crescem, espalham-se e finalmente desaparecem." (Santo Agostinho)

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Rock in Rio: kit peregrino da Jornada Mundial da Juventude dita moda na Cidade do Rock

Mayara Botacin, 18 anos, estudante Foto: Wilson Mendes /
Luã Marinatto e Wilson Mendes

“Esta é a juventude (roqueira) do Papa”. Na Cidade do Rock, um encontro inusitado entre dois grandes eventos internacionais que o Rio sediou num período de apenas dois meses acontece nas costas de parte do público: é comum ver ex-participantes da Jornada Mundial da Juventude utilizando a mochila em que veio o kit peregrino para passear pelo evento. E ainda há quem diga que rock and roll não é coisa de Deus...
A “mistura” entre música e religião, contudo, é vista com total naturalidade. É como pensa, pelo menos, a estudante Mayara Botacin, de 18 anos.
- Não tem nada de contraditório em trazer o kit pra cá. Desde que eu não faça nada que seja contra os meus valores, não vejo problema - diz a jovem, que levou comida e água na bolsa.
Rafael Luiz, 19 anos, estudante
Rafael Luiz, 19 anos, estudante Foto: Wilson Mendes /
Assim como Mayara, o estudante Rafael Luiz, de 19 anos, também participou ativamente da JMJ e chegou a trabalhar no evento.
- Curti muito a Jornada e também estou curtindo muito aqui. São dois grandes eventos com foco na juventude. O mais importante é que tudo ocorra em paz - pede Mayara.
Luana Weitzel, 29 anos, empresária
Luana Weitzel, 29 anos, empresária Foto: Wilson Mendes /
Já a empresária Luana Wietzel, de 29 anos, elogiou a praticidade da mochila da JMJ:
- Eu adoro. Ela é muito confortável para carregar. A Jornada foi um evento muito bonito e grandioso. Espero que seja a mesma coisa aqui. Vai ser mais uma boa recordação pra minha vida.
Ana Amélia e a amiga Ivonete Nunes
Ana Amélia e a amiga Ivonete Nunes Foto: Wilson Mendes
Por fim, embora a Jornada fosse “da juventude”, pessoas de todas idades aproveitaram o evento católico. E também o Rock in Rio 2013, claro.
- Fui todos os dias à JMJ. Ao Rock in Rio eu só venho hoje (domingo), porque adoro o Jota Quest. Estou com uma amiga e os dois filhos dela - conta a funcionária pública Ana Amélia, de 54 anos.


Leia mais: http://extra.globo.com/tv-e-lazer/rock-in-rio/rock-in-rio-kit-peregrino-da-jornada-mundial-da-juventude-dita-moda-na-cidade-do-rock-9972949.html#ixzz2f5Gqk4x1

Para iluminar do dia: sobre a oração e o dinheiro

"Quando pedes a Deus dinheiro, posição social ou vantagens materiais, não pensar n'Ele como garantia dos seus desejos, mas como companheiro de tua ambição. (Santo Agostinho)

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Papa Francisco escreve ao La Repubblica: ''Um diálogo aberto com os não crentes''

O pontífice responde às perguntas que lhe tinham sido feitas por Eugenio Scalfari, fundador do jornal La Repubblica, sobre fé e laicidade. "Chegou o tempo de fazer um trecho de estrada juntos". "Deus perdoa quem segue a própria consciência".
Publicamos aqui a íntegra da carta enviada pelo Papa Francisco ao jornal e publicada no dia 11-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
Ilustríssimo Doutor Scalfari, é com viva cordialidade que, mesmo que somente em grandes linhas, gostaria de tentar com esta minha carta responder à sua, que, a partir das páginas do La Repubblica, o senhor quis me endereçar no dia 7 de julho com uma série de reflexões pessoais suas, que depois o senhor enriqueceu nas páginas do mesmo jornal, no dia 7 de agosto.
Agradeço-lhe, acima de tudo, pela atenção com que quis ler a Encíclica Lumen fidei. Ela, de fato, na intenção do meu amado Antecessor, Bento XVI, que a concebeu e em grande medida a redigiu, e do qual, com gratidão, eu a herdei, é dirigida não somente para confirmar na fé em Jesus Cristo aqueles que nela já se reconhecem, mas também para suscitar um diálogo sincero e rigoroso com aqueles que, como o senhor, se definem como "um não crente há muitos anos interessado e fascinado pela pregação de Jesus de Nazaré".
Parece-me, portanto, certamente positivo não só para nós, individualmente, mas também para a sociedade em que vivemos determo-nos para dialogar sobre uma realidade tão importante como a fé, que se refere à pregação e à figura de Jesus. Eu penso que há, em particular, duas circunstâncias que tornam hoje necessário e precioso esse diálogo.
Ele, aliás, constitui, como se sabe, um dos objetivos principais do Concílio Vaticano II, desejado por João XXIII, e do ministério dos Papas que, cada um com a sua sensibilidade e o seu aporte, desde então e até hoje caminharam no sulco traçado pelo Concílio. A primeira circunstância – como se refere nas páginas iniciais da Encíclica – deriva do fato que, ao longo dos séculos da modernidade, assistiu-se a um paradoxo: a fé cristã, cuja novidade e incidência sobre a vida do ser humano, desde o início, foram expressadas precisamente através do símbolo da luz, foi muitas vezes rotulada como a escuridão da superstição que se opõe à luz da razão. Assim, entre a Igreja e a cultura de inspiração cristã, de um lado, e a cultura moderna de marca iluminista, de outro, chegou-se à incomunicabilidade. Chegou agora o tempo, e o Vaticano II inaugurou justamente a sua época, de um diálogo aberto e sem preconceitos que reabra as portas para um sério e fecundo encontro.
A segunda circunstância, para quem busca ser fiel ao dom de seguir Jesus na luz da fé, deriva do fato de que esse diálogo não é um acessório secundário da existência do crente: ao invés, é uma expressão íntima e indispensável dela. Permita-me citar-lhe, a propósito, uma afirmação a meu ver muito importante da Encíclica: como a verdade testemunhada pela fé é a do amor – sublinha-se – "resulta claro que a fé não é intransigente, mas cresce na convivência que respeita o outro. O crente não é arrogante; ao contrário, a verdade o torna humilde, sabendo que, mais do que possuirmo-la nós, é ela que nos abraça e nos possui. Longe de nos enrijecer, a segurança da fé nos põe a caminho e torna possível o testemunho e o diálogo com todos" (n. 34). É esse o espírito que anima as palavras que eu lhe escrevo.
A fé, para mim, nasceu do encontro com Jesus. Um encontro pessoal, que tocou o meu coração e deu uma direção e um sentido novo à minha existência. Mas, ao mesmo tempo, um encontro que se tornou possível pela comunidade de fé em que eu vivia e graças à qual eu encontrei o acesso à inteligência da Sagrada Escritura, à vida nova que, como água que jorra, brota de Jesus através dos Sacramentos, à fraternidade com todos e ao serviço dos pobres, imagem verdadeira do Senhor. Sem a Igreja – acredite-me –, eu não teria podido encontrar Jesus, embora na consciência de que aquele imenso dom que é a fé é custodiado nos frágeis vasos de barro da nossa humanidade.
Ora, é precisamente a partir daí, dessa experiência pessoal de fé vivida na Igreja, que eu me sinto confortável para ouvir as suas perguntas e para buscar, junto com o senhor, as estradas ao longo das quais possamos, talvez, começar a fazer um trecho de caminho juntos.
Perdoe-me se eu não seguir passo a passo as argumentações propostas pelo senhor no editorial do dia 7 de julho. Parece-me mais frutífero – ou, ao menos, é mais natural para mim – ir de certo modo ao coração das suas considerações. Não vou entrar nem na modalidade expositiva seguida pela Encíclica, em que o senhor entrevê a falta de uma seção dedicada especificamente à experiência histórica de Jesus de Nazaré.
Observo apenas, para começar, que uma análise desse tipo não é secundária. Trata-se, de fato, seguindo, além disso, a lógica que guia o desdobramento da Encíclica, de deter a atenção sobre o significado do que Jesus disse e fez, e, assim, em última instância, sobre o que Jesus foi e é para nós. As Cartas de Paulo e o Evangelho de João, aos quais se faz referência particular na Encíclica, são construídos, de fato, sobre o sólido fundamento do ministério messiânico de Jesus de Nazaré que chegou ao seu auge resolutivo na páscoa de morte e ressurreição.
Portanto, é preciso se confrontar com Jesus, eu diria, na concretude e na rudeza da sua história, como nos é narrada sobretudo pelo mais antigo dos Evangelho, o de Marcos. Constata-se então que o "escândalo" que a palavra e a práxis de Jesus provocam em torno dele deriva da sua extraordinária "autoridade": uma palavra, esta, atestada desde o Evangelho de Marcos, mas que não é fácil traduzir bem em italiano. A palavra grega é "exousia", que, literalmente, refere-se ao que "provém do ser" que se é. Não se trata de algo exterior ou forçado, portanto, mas de algo que emana de dentro e que se impõe por si só. Jesus, com efeito, impressiona, surpreende, inova a partir – ele mesmo o diz – da sua relação com Deus, chamado familiarmente de Abbá, que lhe confere essa "autoridade" para que ele a gaste em favor dos homens.
Assim, Jesus prega "como quem tem autoridade", cura, chama os discípulos a segui-lo, perdoa... todas coisas que, no Antigo Testamento, são de Deus, e somente de Deus. A pergunta que mais vezes retorna no Evangelho de Marcos: "Quem é este que...?", e que diz respeito à identidade de Jesus, nasce da constatação de uma autoridade diferente da do mundo, uma autoridade que não tem como fim exercer um poder sobre os outros, mas servi-los, dar-lhes liberdade e plenitude de vida. E isso até o ponto de pôr em jogo a sua própria vida, até experimentar a incompreensão, a traição, a rejeição, até ser condenado à morte, até desabar no estado de abandono sobre a cruz. Mas Jesus permanece fiel a Deus, até o fim.
E é precisamente então – como exclama o centurião romano aos pés da cruz, no Evangelho de Marcos – que Jesusse mostra, paradoxalmente, como o Filho de Deus! Filho de um Deus que é amor e que quer, com todo o seu próprio ser, que o ser humano, cada ser humano, se descubra e viva também ele como seu verdadeiro filho. Isso, para a fé cristã, é certificado pelo fato de que Jesus ressuscitou: não para trazer novamente o triunfo sobre quem o rejeitou, mas para atestar que o amor de Deus é mais forte do que a morte, o perdão de Deus é mais forte do que todo o pecado, e que vale a pena gastar a própria vida, até o fim, para testemunhar esse imenso dom.
A fé cristã crê nisto: que Jesus é o Filho de Deus que veio para dar a sua vida para abrir a todos o caminho do amor. Por isso, o senhor tem razão, ilustre Dr. Scalfari, quando vê na encarnação do Filho de Deus o eixo da fé cristã.Tertuliano já escrevia: "Caro cardo salutis", a carne (de Cristo) é o eixo da salvação. Porque a encarnação, isto é, o fato de que o Filho de Deus veio na nossa carne e compartilhou alegrias e dores, vitórias e derrotas da nossa existência, até o grito da cruz, vivendo todas as coisas no amor e na fidelidade ao Abbá, testemunha o incrível amor que Deus tem por cada ser humano, o valor inestimável que lhe reconhece. Cada um de nós, por isso, é chamado a fazer seu o olhar e a escolha de amor de Jesus, a entrar no seu modo de ser, de pensar e de agir. Essa é a fé, com todas as expressões que são descritas pontualmente na Encíclica.
Ainda no editorial do dia 7 de julho, o senhor me pergunta, além disso, como entender a originalidade da fé cristã, uma vez que ela se articula justamente na encarnação do Filho de Deus com relação a outras fés que gravitam, ao invés, em torno da transcendência absoluta de Deus.
A originalidade, eu diria, está precisamente no fato de que a fé nos faz participar, em Jesus, da relação que Ele tem com Deus que é Abbá e, nessa luz, da relação que Ele tem com todos os outros seres humanos, incluindo os inimigos, no sinal do amor. Em outros termos, a filiação de Jesus, como ela é apresentada pela fé cristã, não é revelada para marcar uma separação intransponível entre Jesus e todos os outros: mas para nos dizer que, n'Ele, todos somos chamados a ser filhos do único Pai e irmãos entre nós. A singularidade de Jesus é pela comunicação, não pela exclusão.
Certamente, segue-se também disso – e não é uma coisa pequena – aquela distinção entre a esfera religiosa e a esfera política que é sancionada no "dar a Deus o que é de Deus e a César o que é de César", afirmada com clareza por Jesus e sobre a qual, laboriosamente, se construiu a história do Ocidente. A Igreja, de fato, é chamada a semear o fermento e o sal do Evangelho, isto é, o amor e a misericórdia de Deus que alcançam todos os seres humanos, apontando para a meta ultraterrena e definitiva do nosso destino, enquanto à sociedade civil e política cabe a tarefa árdua de articular e encarnar na justiça e na solidariedade, no direito e na paz, uma vida cada vez mais humana. Para quem vive a fé cristã, isso não significa fuga do mundo ou busca de qualquer hegemonia, mas sim serviço ao ser humano, a todo o ser humano e a todos os seres humanos, a partir das periferias da história e mantendo desperto o senso da esperança que impulsiona a fazer o bem apesar de tudo e olhando sempre além.
O senhor me pergunta também, na conclusão do seu primeiro artigo, o que dizer aos irmãos judeus acerca da promessa feita a eles por Deus: ela foi totalmente esvaziada? Esta é – acredite-me – uma interrogação que nos interpela radicalmente, como cristãos, porque, com a ajuda de Deus, sobretudo a partir do Concílio Vaticano II, redescobrimos que o povo judeu ainda é, para nós, a raiz santa a partir da qual germinou Jesus. Eu também, na amizade que cultivei ao longo de todos esses anos com os irmãos judeus na Argentina, muitas vezes na oração interroguei a Deus, de modo particular quando a mente ia ao encontro das recordações da terrível experiência do Holocausto. Aquilo que eu posso lhe dizer, com o apóstolo Paulo, é que nunca falhou a fidelidade de Deus à aliança feita com Israel e que, através das terríveis provações desses séculos, os judeus conservaram a sua fé em Deus. E por isso, a eles, nós nunca seremos suficientemente gratos, como Igreja, mas também como humanidade. Eles, além disso, justamente perseverando na fé no Deus da aliança, lembram a todos, também a nós, cristãos, o fato de que estamos sempre à espera, como peregrinos, do retorno do Senhor e que, portanto, sempre devemos estar abertos a Ele e nunca nos encastelarmos naquilo que já alcançamos.
Chego, assim, às três perguntas que o senhor me faz no artigo do dia 7 de agosto. Parece-me que, nas duas primeiras, o que está no seu coração é entender a atitude da Igreja para com aqueles que não compartilham a fé emJesus. Acima de tudo, o senhor me pergunta se o Deus dos cristãos perdoa quem não crê e não busca a fé. Posto que – e é a coisa fundamental – a misericórdia de Deus não tem limites se nos dirigimos a Ele com coração sincero e contrito, a questão para quem não crê em Deus está em obedecer à própria consciência. O pecado, mesmo para quem não tem fé, existe quando se vai contra a consciência. Ouvir e obedecer a ela significa, de fato, decidir-se diante do que é percebido como bom ou como mau. E nessa decisão está em jogo a bondade ou a maldade do nosso agir.
Em segundo lugar, o senhor me pergunta se o pensamento segundo o qual não existe nenhum absoluto e, portanto, nem mesmo uma verdade absoluta, mas apenas uma série de verdades relativas e subjetivas, é um erro ou um pecado. Para começar, eu não falaria, nem mesmo para quem crê, em verdade "absoluta", no sentido de que absoluto é aquilo que é desamarrado, aquilo que é privado de qualquer relação. Ora, a verdade, segundo a fé crença, é o amor de Deus por nós em Jesus Cristo. Portanto, a verdade é uma relação! Tanto é verdade que cada um de nós a capta, a verdade, e a expressa a partir de si mesmo: da sua história e cultura, da situação em que vive etc. Isso não significa que a verdade é variável e subjetiva, longe disso. Mas significa que ela se dá a nós sempre e somente como um caminho e uma vida. Talvez não foi o próprio Jesus que disse: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida"? Em outras palavras, a verdade, sendo definitivamente uma só com o amor, exige a humildade e a abertura a ser buscada, acolhida e expressada. Portanto, é preciso entendermo-nos bem sobre os termos, e, talvez, para sair dos impasses de uma contraposição... absoluta, refazer profundamente a questão. Penso que isso seja absolutamente necessário hoje para entabular aquele diálogo sereno e construtivo que eu esperava no início deste meu dizer.
Na última pergunta, o senhor me questiona se, com o desaparecimento do ser humano sobre a terra, também desaparecerá o pensamento capaz de pensar Deus. Certamente, a grandeza do ser humano está em poder pensar Deus. Isto é, em poder viver uma relação consciente e responsável com Ele. Mas a relação entre duas realidades. Deus – este é o meu pensamento e esta é a minha experiência, mas quantos, ontem e hoje, os compartilham! – não é uma ideia, embora altíssima, fruto do pensamento do ser humano. Deus é Realidade, com "R" maiúsculo. Jesusno-lo revela – e vive a relação com Ele – como um Pai de bondade e misericórdia infinitas. Deus não depende, portanto, do nosso pensamento. Além disso, mesmo quando viesse a acabar a vida do ser humano sobre a terra – e para a fé cristã, em todo caso, este mundo como nós o conhecemos está destinado a desaparecer –, o ser humano não deixará de existir e, de um modo que não sabemos, assim também o universo criado com ele. A Escritura fala de "novos céus e nova terra" e afirma que, no fim, no onde e no quando que está além de nós, mas para o qual, na fé, tendemos com desejo e expectativa, Deus será "tudo em todos".
Ilustre Dr. Scalfari, concluo assim estas minhas reflexões, suscitadas por aquilo que o senhor quis me comunicar e me perguntar. Acolha-as como a resposta tentativa e provisória, mas sincera e confiante, ao convite que nelas entrevi de fazer um trecho de estrada juntos. A Igreja, acredite-me, apesar de todas as lentidões, as infidelidades, os erros e os pecados que pode ter cometido e ainda pode cometer naqueles que a compõem, não tem outro sentido e fim senão o de viver e testemunhar Jesus: Ele que foi enviado pelo Abbá "para levar aos pobres o alegre anúncio, para proclamar aos presos a libertação e aos cegos a recuperação da vista, para libertar os oprimidos, para proclamar o ano de graça do Senhor" (Lc 4, 18-9).
Com proximidade fraterna
Francisco

Para iluminar o dia: Sobre a Verdade



"A verdade não é minha nem tua, para que possa ser tua e minha" (Santo Agostinho)

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Para iluminar o dia: sobre a humanidade em Deus



"Fez-se 'Deus conosco' para que fôssemos 'deuses com Ele'. Ele, que para estar conosco se fez um de nós,, faz que sejamos com Ele fazendo-nos um com Ele" (Santo Agostinho).

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Para iluminar o dia: sobre a oração

"Vive de tal modo que a sua vida seja uma oração. Canta a Deus com a boca, salmodia com as obras. Não te contentes com a formalidade de recitar salmos e hinos. Põe em tuas mãos o saltério de tuas boas obras." (Santo Agostinho)

Encerramento da Expoagostiniana 2ª edição

Oração, poesia e dança...Deus manifesto na sua Beleza, tão antiga e sempre nova.