(Colaboração Tailer Ferreira, noviço da OSA )
Aurelius Augustinus nasceu no dia 13 de novembro de 354, na cidade de Tagaste, uma província romana do Norte da África, na atual Souk-Ahras, Argélia. Era filho de Patrício, um africano romanizado, funcionário público e pagão, e de Mônica, fervorosa cristã que incansavelmente acompanhou o filho, rezando por sua conversão. Primogênito de três filhos, Agostinho herdou do pai o temperamento sensual e impetuoso, e da mãe a ternura e a tendência para a contemplação mística.
Agostinho era uma criança comum: alegre, buliçosa, inteligente, travessa e amante da amizade. Aos 11 anos, a mando do pai que sonhava ter um filho retórico, mudou-se para Madaura, uma cidade vizinha, para dedicar-se aos estudos clássicos latinos. Necessidades domésticas, entretanto, o impossibilitaram de continuar os estudos e o fez retornar a Tagaste, para só em 371, com a ajuda de Romaniano, retomar os estudos em Cartago.
Em Cartago, Agostinho recebeu ampla formação estudando retórica, dialética, geometria, música, matemática, etc. Tornou-se professor e, ao mesmo tempo, deixa-se subjugar pelo teatro e pelos amores. Tal vida, por sua vez, o conduziu a um relacionamento com uma mulher, a qual amou com amor constante por longos anos, e com a qual teve um filho de nome Adeodato (“dado por Deus”).
Lendo, aos 19 anos, o livro Hortênsio de Cícero, Agostinho apaixonou-se pela busca da verdade que o impulsionou percorrer fecundo itinerário de conversões filosóficas. Por algum tempo, encontrou na doutrina maniqueísta explicações plausíveis para suas questões, deixando-se fascinar por sua atitude racionalizante e por sua moral cômoda. Todavia, depois de atenciosa análise do pensamento maniqueu, abandonou-o, perscrutando respostas entre os astrólogos, entre os céticos da Nova Academia e, por fim, no neoplatonismo, onde encontrou mais solidez intelectual.
Por influência de sua mãe, mas também pela eloquência do Bispo Ambrósio, que apresentava em suas pregações a doutrina cristã de forma mais elaborada, Agostinho deixou-se recativar e envolver pela mensagem do Evangelho. Estando, em 385, no auge de sua carreira como professor, na Cátedra de retórica em Milão, na residência do Imperador, o homem de
coração inquieto, Agostinho, viveu talvez o momento mais crucial de sua vida, a “conversão” para o cristianismo. Ao ouvir a voz que lhe sussurrava “Toma e lê”, Agostinho, a partir da leitura de Romanos 13, 13-14, deixou-se iluminar pela luz da segurança e inflamou-se do desejo de conhecer mais profundamente a Deus.
Após a conversão, Agostinho retirou-se, com alguns amigos, o filho e a mãe, para um tempo de profunda reflexão em Cassiciaco, na Itália. A partir de então e recebendo o batismo na noite de 24 de abril de 387, pelas mãos do bispo Ambrósio, Agostinho implicou-se radicalmente na vivência da interioridade, da vida fraterna e do serviço à Igreja, chegando a ser aclamado bispo de Hipona. Tamanho zelo e dedicação na busca pela verdade, haja vista a riqueza de seus escritos, nem mesmo com a sua morte, em 28 de agosto de 430, com a queda do Império Romano e as invasões bárbaras, se extinguiram. Muitos monges, que fugiram em meio a essa época de crises e transição, levaram consigo o ideal de Agostinho e fundaram vários mosteiros pelo mundo.
Passados cerca de oito séculos, em 1256, o papa Alexandre IV deu novo impulso à Ordem de Santo Agostinho reunindo diversas ordens e congregações, colocando-as no rol das Ordens mendicantes e canalizando suas forças espirituais no apostolado da pregação e no cuidado pastoral em muitas cidades européias. Desde então, e já com algumas ramificações, a Ordem de Santo Agostinho tem buscado sempre, à luz daquele que a inspira, alimentar os corações daqueles que inquietos buscam a verdade.
OS AGOSTINIANOS NO BRASIL
Consta
que “a primeira fundação agostiniana no Brasil se deu em 1693, quando chegaram
à Bahia nove frades, que se estabeleceram numa das colinas de Salvador, onde
fundaram o convento de Nossa Senhora da Palma.” (FABRA, 1992, p. 17). Todavia,
em 1824, D. Pedro I suprimiu a fundação baiana e o prédio – onde por anos havia
funcionado “hospício” de repouso, hospital e até Noviciado – é destinado para a
instalação de um seminário do arcebispado. Assim, somente no final do século
XIX, agostinianos voltarão a pisar em terras brasileiras.
Os
Agostinianos e os Recoletos foram os primeiros a chegarem ao Brasil, em 1899. E
realizaram um trabalho importante em várias regiões do país, como: missões no
interior de Goiás, Amazonas e Pará; fundações em São Paulo, capital, e nos
estados de Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. Chegaram, posteriormente,
outros grupos de inspiração agostiniana; eis alguns deles: em 1906, as Cônegas
de Santo Agostinho; em 1921, as Agostinianas Missionárias; em 1935, as
Missionárias Agostinianas Recoletas e os Assuncionistas; em 1948, as Cônegas do
Santo Sepulcro e os Agostinianos Descalços; em 1972, as Agostinianas Servas de
Jesus e Maria.
Hoje,
a Federação Agostiniana Brasileira (FABRA) é a entidade religiosa que congrega
a Família Agostiniana[1] presente no Brasil e
busca: animar a vida da Federação e promover suas atividades; fomentar nos
membros da Federação o espírito agostiniano; promover o desenvolvimento da
Família Agostiniana no Brasil, por meio de ajuda e serviços comuns; facilitar e
promover intercâmbios e consultas entre seus membros; ativar e levar a bom
termo, projetos que se vejam oportunos; consolidar e fortalecer suas relações
com a Hierarquia Eclesiástica e outras entidades religiosas e civis[2].
O VICARIATO AGOSTINIANO NOSSA SENHORA DA
CONSOLAÇÃO DO BRASIL
O segundo grupo de
agostinianos a chegar ao Brasil foram os religiosos da Província Matritense do
Sagrado Coração de Jesus (Espanha), fundada em 1895. Esta, oriunda da Província
das Filipinas, herdava-lhe também o espírito missionário. Ao ouvir-se dizer que
no Brasil havia solo fértil para uma missão e, com o intuito de poupar
vocações, diante da catástrofe que se avizinhava, com a Guerra Civil Espanhola
(1936-1939), os superiores da província resolveram enviar alguns jovens
religiosos para uma experiência na Diocese de Valença (RJ), no período de 1929
a 1933. (PINHEIRO, 2012, p. 4)
De 1930 a 1933 chegou progressivamente um
grupo numeroso de religiosos, dentre eles: Benito Prieto, Saturnino Casas,
Marcelino García, Vicente Rabanal, Juan Francisco Herrero, Andrés Pérez Toledo
(primeiro vicário), entre outros. Em 1931, abriu-se no Rio de Janeiro, no
bairro Marechal Hermes, aquela que viria ser a casa mãe: a paróquia São Paulo,
renomeada de Nossa Senhora das Graças. Já em 1932, encerrando-se as atividades
no Seminário de Valença, assumiu-se a paróquia do Bom Sucesso (município
vizinho à Belo Horizonte). Também no mesmo ano, abriu-se no Rio mais uma
paróquia, a de Nossa Senhora da Consolação, no bairro Engenho Novo. Conforme
conta Pinheiro, nesse momento era nomeado, na Espanha, o novo Vicário
Provincial, Fr. Carlos Vicuña, pioneiro dos Agostinianos do Escorial no Brasil
e grande dinamizador das fundações desse período, sobretudo do Colégio Santo
Agostinho, de Belo Horizonte. (FABRA, 1992, pp. 27-28)
Assim, como se pode
observar, desde os primeiros tempos, os frades se dedicaram à atividade
paroquial e educacional em cidades do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.
E até hoje, passados mais de 80 anos, o grupo avança, a passos largos,
perseguindo este ideal sob a luz do carisma agostiniano.
Referências
FEDERAÇÃO
AGOSTINIANA BRASILEIRA. Resenha
histórica da grande família agostiniana no Brasil. Belo Horizonte: FABRA,
1992.
PINHEIRO,
Luiz Antonio. Frei Carlos Vicuna Eliozondo, OSA: Pioneiro dos Agostinianos do
Escorial no Brasil (1893-1972). Inquietude,
Belo Horizonte, n. 79, mai./set. 2012.
VICARIATO
AGOSTINIANO NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO DO BRASIL. Santo Agostinho e os agostinianos. Belo Horizonte. (Caderno
vocacional)
[1] A Família
Agostiniana no Brasil, atualmente, está assim constituída: Vicariato Regional
de Castela (OSA); Vicariato N. Sra. da Consolação (OSA); Vicariato do Brasil
(OSA); Circunscrição de Malta (OSA); Província de Santa Rita de Cássia (OAR);
Vicariato Sto Tomás de Vilanova (OAR); Vice Província dos Religiosos da
Assunção SP (AA); Agostinianos Assuncionistas Região Rio de Janeiro (AA);
Padres Agostinianos Descalços (OAD); Província Cristo Rei (AM); Província Santa
Rita de Cássia (MAR); Irmãs Servas de Jesus e Maria (SLJM - OSA); Cônegas
Regulares do Santo Sepulcro (CRSS); Ordem Premonstratense (OP); Irmãs Oblatas
da Assunção (OA); e todas as Províncias que vierem a fazer parte mediante
solicitação de inscrição junto à Equipe de Governo. (Disponível em: <http://www.osa.org.br/osa/fabra/fabra.htm>. Acesso em: 23
out. 2012.)