quarta-feira, 29 de maio de 2013

Para iluminar o dia de Corpus Christi: Corpos tristes

Por Frei Betto "A história do Ocidente pode ser considerada, ainda, a história da abstração das idéias ou da volatilização dos corpos" A festa de Corpus Christi celebra o resgate dos corpos tristes. É curioso que seja a Igreja católica aquela que reserva em seu calendário litúrgico uma data para festejar o corpo humano! O corpo é o ser em sua totalidade, pleno, holisticamente conectado com o Cosmo. No entanto, filosofias e teologias retalharam o corpo humano em membros nobres e ignóbeis. Separou-se a carne do espírito, como se a primeira fosse apenas a frágil e fugaz embalagem do segundo. E os senhores da pretensa nobreza espiritual se julgaram no direito de submeter os corpos daqueles que, a seus olhos, eram massa bruta desprovida de ciência e consciência, dignidade e direitos. Como as vítimas do trabalho escravo em fazendas e latifúndios Brasil afora. Figuram nas bibliotecas livros sobre a história da cultura, do espírito, da filosofia e até da vida privada. A história dos corpos humanos – dos índios, dos negros, das mulheres etc – é um personagem ainda em busca de um autor. Toda a nossa relação com o mundo, como acentuam Husserl e Mounier, dá-se na e pela corporeidade. Cada corpo é o resultado da evolução de 15 bilhões de anos, do Big Bang à irrupção da consciência. Todas as nossas células são feitas de moléculas constituídas de átomos integrados por partículas e ondas quimicamente combinadas e transmutadas no calor das estrelas. Nossos corpos são feitos de matéria estelar. Como comprovou Dolly, a ovelha clonada, uma única célula encerra toda a programação genética de um ser vivo. Agora, a ciência faz coincidir potência com realidade. Corpus Christi celebra a sacralidade que Jesus imprime ao corpo humano. Somos algo mais que seres vivos. Somos morada de Deus. Em Cristo, o mundo dessacralizado de Max Weber desloca-se da geografia dos lugares santos para antropocentrar-se. Todos os templos são amontoados de pedras diante da sacralidade inalienável de um homem ou uma mulher, seja ele banqueiro ou criança de rua, chefe de Estado ou desempregado. No Credo, os cristãos não professam sua fé na "ressurreição da alma", e sim "na ressurreição da carne", pois é todo o nosso ser, com suas conexões cósmicas, que foi redimido por Cristo. O Universo inteiro é pleroma, extensão do corpo de Cristo que se dilata rumo ao Ponto Ômega, na visão macrocósmica de Teilhard de Chardin. Corpos, entretanto, são profanados pela carga desumana de trabalho; humilhados pelo desemprego; relegados pela carência de saúde; prostituídos, torturados, afetados pela dor e pela morte precoce. A história do Ocidente pode ser considerada, ainda, a história da abstração das idéias ou da volatilização dos corpos. Persiste uma abissal distância entre, de um lado, o discurso dos direitos humanos, de um lado, e, de outro, a realidade dos corpos. Ganha espaço a virtualização dos corpos realçada pela estilização estética e perde terreno a ética do respeito e da promoção da dignidade dos corpos. Basta olhar uma banca de revistas. Dezenas de publicações exaltam a beleza física e a performance do organismo, amparadas pela poderosa publicidade de cosméticos e drágeas que prometem o elixir da eterna juventude. Cercados por esse panteão de modelos esbeltos, muitos se sentem insatisfeitos com o próprio corpo. Os privilegiados recorrem à cirurgia plástica. Porém, quem se queixa do próprio cérebro? Quanta bobagem ali dentro, travestida de princípios e valores! Na cultura hedonista do parecer pouco importa o ser. Contudo, quantos corpos atrativos e exuberantes geram decepção quando conhecidos em suas convicções, gestos e modo de se relacionar com os outros! Cada um de nós sabe, no mais íntimo de si, o que traz no avesso de sua corporalidade. É esse mistério que tanto inquieta: somos o que não parecemos e parecemos o que não somos. A dicotomia só cessa quando o amor nos invade por dentro. Então, a corporalidade atinge sua expressão litúrgica e tudo, do sexo ao gesto, da fala ao olhar, ganha uma densidade diáfana e torna o corpo cálice no qual transborda luz e do qual se irradia a energia que transmuta as relações em comunhão. Frei Betto é escritor e autor, em parceria com Leonardo Boff, de Mística e espiritualidade (Garamond), entre outros livros.

Seu gesto me aquece neste inverno

O Departamento de Evangelização, Pastoral e Ação Social – Depas está realizando uma Ação entre Amigos para arrecadar cachecóis, meias de cano longo, luvas e gorros a serem doados aos pacientes e acompanhantes da enfermaria do Hospital Mário Pena. “Para a maioria de nós, parece que o inverno ainda não chegou, mas no Hospital, onde as pessoas se movimentam pouco e quase não tomam sol, já está fazendo muito frio. E são essas pessoas que precisam da nossa ajuda”, afirma a coordenadora do Depas, Maria das Dores. As doações deverão ser entregues na sala do Depas, no período de 03 a 14 de junho de 2013.