quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Estudantes do Colégio Santo Agostinho dão exemplo de solidariedade

Ambulante tem carrinho de balas roubado e é surpreendido com alunos que se mobilizaram para comprar um novo


MAURICIO DE SOUZA
baleiro
Alunos se uniram para mostrar solidariedade ao baleiro Pelé


Aos 49 anos vividos com muito sacrifício, juntando, literalmente, os centavos para criar a família com dignidade, o ambulante Antônio Rodrigues Santos teve a dura notícia do roubo de seu carrinho de pipocas e doces, na última segunda-feira de janeiro, dois dias antes do retorno das aulas. Mas o que poderia se transformar nos piores dias da vida de “Pelé”, como ele é conhecido, acabou mostrando o tanto que é querido pelos alunos, pais e professores do Colégio Santo Agostinho, na região Centro-Sul da capital mineira.
 
Pelé trabalha há 35 anos na porta da instituição, onde, ainda garoto, ajudava o pai no mesmo ofício. Ao sentir a falta do pipoqueiro, os estudantes se mobilizaram para arrecadar dinheiro e comprar um novo carrinho para o ambulante. Em uma semana, com a propaganda boca a boca e nas redes sociais, conseguiram mais de R$ 2 mil, além de uma doação de balas.

Emocionado, o ambulante esteve na última terça-feira (7) no colégio e foi recebido com abraços e saudações carinhosas dos estudantes e da direção da escola. “Se não fossem eles, eu não teria condições de voltar. Costumo dizer que é muito bom ser importante, mas o mais importante é ser bom. Conheço todos esses meninos, e alguns pais também já compraram balas comigo quando crianças. São várias gerações que vejo crescer”, recorda-se Pelé.

Por trás da timidez e humildade, Antônio demonstra uma firmeza de caráter e grande conhecimento sobre a educação escolar. “Ele tem um perfil de educador. Conhece os estudantes e nos ajuda. Não é dedo-duro, mas chama atenção quando algum está demorando a entrar ou se tem aluno que está exagerando nos doces. Ele praticamente faz parte do colégio. Pelé é um guardião da nossa escola”, diz a coordenadora do Departamento Pessoal do colégio, Maria das Dores Correia de Souza.

O ambulante recebeu diversos cartões com mensagens solidárias de ex-alunos, pais e professores. Enquanto a reportagem do Hoje em Dia conversava com ele, na secretaria do colégio, o telefone tocou três vezes: eram pessoas querendo saber se a situação de Pelé já havia sido resolvida. “Ele trabalha com respeito e honestidade, e ganhou o carinho de toda a comunidade ao redor. A repercussão foi enorme”, destaca o diretor da unidade de ensino, Francisco Morales.

O carrinho estava guardado num estacionamento, nas proximidades do colégio, que foi arrombado. “Sentimos a falta de Pelé no primeiro dia de aula. Ligamos para ele e ficamos sabendo do ocorrido. A notícia se espalhou e todos se prontificaram a ajudar. Com a permissão do diretor, centralizamos as arrecadações”, diz Maria das Dores.

Ela ressalta que o cuidado dele é tão grande com as crianças que, ao sugerirem um carrinho mais sofisticado, com vidros, Pelé recusou, alegando o perigo de quebrar e machucar alguém. “Se pudesse, trocaria, com o ladrão, o novo pelo velho, visto o valor de estimação que tinha por aquele carrinho. Comprei com o dinheiro da pensão do meu pai e da aposentadoria de minha mãe. Lembro-me até do valor: 300 cruzeiros, como era a moeda naquela época”.

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